Que Brasil o novo presidente vai herdar? Eu sou Nathália Passarinho, da
BBC News Brasil aqui em Londres e hoje vou detalhar qual vai ser essa
herança em cinco áreas fundamentais e mostrar como o Brasil se compara
em indicadores internacionais Vamos começar com economia No começo do segundo mandato do governo
Dilma Rousseff, o Brasil parou de crescer Em 2015 e 2016,
o produto interno bruto, que é basicamente o tamanho da nossa economia diminuiu 3,5% No ano passado, a economia saiu
da recessão, mas cresceu só 1% Sem contar com a Venezuela, que está
passando por uma crise gravíssima, o nosso é o pior resultado de
toda a América do Sul Este ano, a previsão do FMI é que o Brasil cresça 1,4% Ou seja, o ritmo de recuperação
é muito lento E outros indicadores econômicos
também preocupam como o rombo nas contas públicas Por vários anos, o Brasil conseguiu fechar contas no azul e cumprir metas de
superávit primário Isso quer dizer que conseguiu inclusive
economizar para pagar juros da dívida Mas, a partir de 2014, isso começou a
mudar No ano passado, o déficit nas contas públicas, que inclui governo federal
estados e municípios, alcançou R$ 110,5 bilhões Este ano a previsão é de um
rombo de mais de R$ 161 bilhões Para cobrir isso? Mais dívidas Ou seja, resolver essa equação vai ser
uma das tarefas do próximo presidente Outro indicador econômico que
ainda preocupa é a taxa de desemprego De 2010 a 2014, a taxa
de desemprego se manteve baixa Chegamos inclusive ao chamado
pleno emprego Mas, de 2014 para cá, o percentual praticamente dobrou No ano passado, a taxa de
desemprego do Brasil foi de 11,8% foi a pior de toda a América Latina,
atrás apenas do Haiti, com 14% Entre jovens brasileiros de 18 e 24
anos, o percentual de desempregados alcança 26% São quase 13 milhões de pessoas procurando trabalho Especialistas dizem que a
informalidade tem aumentado, assim como o grupo dos chamados
desalentados, que são as pessoas que acabaram desistindo de procurar emprego
por acharem que não existem oportunidades Como a taxa mede a procura
por emprego, quando a pessoa desiste, pode dar a aparência equivocada de
que a situação melhorou Por outro lado, a inflação do Brasil está
dentro daquela antiga meta de 4,5% abandonada no segundo governo
Dilma Segundo o último relatório Focus,
divulgado pelo Banco Central a inflação deve alcançar 4,43% esse ano Ou seja, fica agora o desafio para o novo governo de equilibrar as contas públicas,
gerar emprego e ao mesmo tempo crescimento econômico para o Brasil E isso sem gerar inflação Tá tranquilo, né? O lado bom é que a taxa básica de juros,
não a que o banco cobra de mim e de você que essa continua lá no alto Bom, mas a taxa selic está entre as
mais baixas da nossa história, hoje em 6,5% O próximo tópico – saúde Os investimentos em saúde
diminuíram nos últimos três anos Em 2018 o país gastou 3,6% do PIB nesse setor Vamos comparar com o resto
do mundo para ficar mais claro O Brasil gasta por pessoa em saúde um pouco mais que o México e a Colômbia Mas em nível global
não está nada bem Gasta um pouco mais que a metade que
Portugal investe por habitante O Reino Unido gasta três vezes mais por
habitante E olhe à distância para o primeiro colocado Os Estados Unidos gastam quase 7 vezes mais que o Brasil per capita
em saúde Qual o efeito disso? Você já viu gente de maca e cadeira de rodas
nos corredores dos hospitais? Pois é Para você ter uma idéia,
nos últimos oito anos, de 2010 a 2018 a rede pública de saúde perdeu 34 mil
leitos de internação Segundo o Ministério da Saúde, isso significa 12 leitos hospitalares fechados a cada dia por falta de dinheiro para manter Inacreditável, né? Agora, educação Bom, é o consenso internacional
que se um país quer se desenvolver é essencial investir muito e
bem em educação Em 2018, foram cortadas 200 mil
bolsas de pesquisa do CAPES que financiava estudantes de pós-graduação Mas é no ensino médio e básico que tá o maior problema segundo os especialistas O novo governo vai herdar
um país com mais jovens na escola e uma população com uma
média maior de anos de escolaridade O problema é a qualidade desse ensino Em 2015, o Brasil teve a pior nota da América do Sul
no teste de matemática do Pisa que é o principal exame internacional para medir a
qualidade da educação em todo o mundo Aliás, na América Latina, como em todo, o
Brasil só foi melhor que a República Dominicana Olha Chile, Argentina e Uruguai, por exemplo se saíram bem melhores que a
gente E mais, entre as 70 nações que fizeram as provas
de ciências, matemática e leitura do Pisa o Brasil parece lá em baixo entre os
dez países com os piores resultados Uma coisa que me chamou a atenção quando
entrevistei o diretor de educação da o OCDE que foi quem criou o pisa, o Andreas Schleicher,
é que a situação do Brasil não é muito melhor nas escolas particulares Ele disse, por exemplo, que os 10% mais ricos do Brasil vão tão bem nas provas
que os 10% mais pobres do Vietnã Segurança pública Nunca se matou tanto no Brasil No ano passado foram 63.880 homicídios segundo o Fórum Nacional de
Segurança Pública Esse ranking de 2016 da ONU mostra uma comparação do Brasil com outros países da América Latina A gente aparece como o
terceiro país da América do Sul com mais mortes violentas por 100 mil habitantes São 31 homicídios em cada grupo de 100 mil pessoas A gente só está melhor que Colômbia e Venezuela Os dois países mais seguros
do mundo são Luxemburgo e Cingapura com 0,2 mortes violentas a cada 100 mil
habitantes Não é à toa que a violência foi um dos temas
centrais da campanha para presidente da República O último tópico – corrupção Esse é para muita gente um dos
principais problemas do Brasil porque acaba afetando a eficiência de
todos os itens que a gente citou antes Se dinheiro público é desviado,
sobra menos para saúde, educação, e por aí vai. Bom, é difícil medir o quão corrupto é um país Mas os vários escândalos de corrupção que a gente acompanha no noticiário dão uma pista de como é o nosso Em 2017, o Brasil caiu 17 posições no ranking do
Índice de Percepção da Corrupção que mede o quanto a população
encara o próprio país como corrupto Ou seja, aumentou a percepção entre a população brasileira de que existe muita corrupção no Brasil Aí fica aquela disputa – sempre foi corrupto ou
aparece mais agora porque as investigações estão acontecendo? O desafio do próximo presidente vai ser resolver não a pergunta mas sim o
problema Nosso país aparece na posição
96 de uma lista de 180 países do menos corrupto para o mais corrupto É visto como o mais corrupto, por exemplo, que
Timor-Leste, Senegal e Marrocos, entre outros Considerando todos esses pontos, não é exatamente a herança que
alguém gostaria de receber Mas o Brasil já esteve em situação bem difícil no passado e
melhorou em vários pontos Só lembrar, por exemplo, da hiperinflação e da taxa de
analfabetismo de 25% nos anos 80 Ou seja, o desafio é grande mas é
possível e depende de política pública e de investir de forma inteligente Gostou
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