Nos últimos três meses, pesquisas de opinião
vêm mostrando um crescimento do presidente Jair Bolsonaro em intenções de voto e recuperação
de popularidade. Lula continua na liderança e vence em todos
os cenários para o segundo turno, mas se manteve estável nas pesquisas. Agora, o que explica esse avanço de Bolsonaro,
seis meses antes da eleição? Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC
News Brasil em Londres, e hoje eu vou falar de três fatores determinantes para isso. Mas, antes – o que as pesquisas dizem? Em média, o percentual dos
que avaliam positivamente Bolsonaro subiu de 30% para 35% nos primeiros três meses deste ano. E nas pesquisas de intenção de voto, ele
também cresceu, apesar de ainda estar bem atrás de Lula. Levantamento da XP/Ipespe, divulgado no dia
6 de abril, depois de o ex-juiz Sergio Moro deixar a disputa, mostra Bolsonaro com 30%
das intenções de voto, e Lula, com 44%. Na pesquisa anterior, do mesmo instituto,
o presidente aparecia com 26%, e Lula, com os mesmos 44%. Ou seja, Bolsonaro cresceu
quatro pontos percentuais. Na semana passada, nova pesquisa do mesmo instituto mostrou Bolsonaro
com 31% e Lula com 45%. Outra pesquisa, da Genial/Quaest, também
divulgada em abril, mostra movimento semelhante. Bolsonaro aparece com 31% num cenário sem
Moro, um avanço de cinco pontos percentuais desde a pesquisa anterior. Lula se manteve estável, com 45%. Levantamentos feitos antes da saída de Moro
já indicavam uma recuperação. Na última pesquisa Datafolha, divulgada em
24 de março, Bolsonaro aparece com 26%, contra 43% de Lula. No levantamento anterior,
de dezembro do ano passado, o ex-presidente tinha entre 21% e 22% e Lula, entre 47% e 48%. Com a melhora na popularidade, a consultoria
internacional Eurasia Group calcula que Bolsonaro passou de uma chance de 20% de ganhar a eleição,
para 25%. Mas Lula segue na liderança e, conforme os
cálculos da Eurasia, tem 70% de chance de vencer. Olha o que diz o relatório da consultoria: “A expectativa é que a disputa fique cada
vez mais apertada conforme avança a campanha. Atualmente, as pesquisas mostram Lula vencendo
Bolsonaro num segundo turno por uma diferença de 15 a 17 pontos percentuais. Essa margem deve diminuir para algo entre
5 e 10 pontos durante a campanha”. Agora vamos aos três fatores listados por
especialistas com quem eu conversei que teriam sido determinantes para esse avanço de Bolsonaro. O primeiro? A saída de Moro da disputa Depois de ser anunciado candidato pelo partido
Podemos, Moro decidiu deixar a legenda e se filiar ao União Brasil, fusão do DEM com
o PSL. Na época, ele disse que estava desistindo
“momentaneamente” da candidatura à Presidência. Mas, pouco depois o novo partido de Moro decidiu
lançar como candidato o deputado federal Luciano Bivar (PE). Com isso, ao que tudo indica, Moro, que aparecia
em terceiro lugar nas pesquisas, com cerca de 8%, não vai mais disputar a eleição. Os dois levantamentos feitos após a desistência
indicam que Bolsonaro foi quem mais se beneficiou com isso. Olha o que o cientista político Felipe Nunes, me disse: “O eleitor que votou em Bolsonaro em 2018,
mas estava insatisfeito com o governo, procurou uma terceira via, não encontrou e agora está
voltando para Bolsonaro. Chamo isso de ‘a volta dos que nunca foram’. São pessoas que tinham uma insatisfação
momentânea, que rejeitam o PT, e que, diante da ausência de uma terceira via forte, voltam
a considerar o voto em Bolsonaro.” Segundo Nunes, uma das pesquisas da Genial/Qauest
indicou que a maioria dos eleitores de Moro viam Bolsonaro como segunda alternativa, e
vice-versa. O segundo fator é o chamado “pacote de
bondades” A cientista política Carolina
de Paula, especialista em comportamento eleitoral, aponta o Auxílio Brasil e demais promessas ou benefícios concedidos
pelo governo Bolsonaro a populações de baixa renda como fator determinante do crescimento
dele. Ela lembra que é comum que candidatos à
reeleição passem a conceder isenções ou benefícios sociais capazes de elevar a sua
popularidade. Esse conjunto de medidas costuma ser chamado
de “pacote de bondades”. No caso de Bolsonaro, três medidas teriam
contribuído especialmente para a sua melhora na avaliação. A primeira foi a criação, no final do ano passado, do Auxílio Brasil,
programa de transferência de renda que substituiu o Bolsa Família e
que paga cerca de R$ 400 por mês a 18 milhões de famílias. A criação desse programa foi alvo de controvérsia,
com muitos críticos afirmando que ele teria caráter eleitoreiro. Outras medidas foram a autorização de saque
de até R$ 1.000 do FGTS e a antecipação do 13° salário dos aposentados, além do
perdão de dívidas estudantis. “Quando você olha de fevereiro para cá,
os dados realmente dão um salto. Acredito que alguns fatores. Primeiro, tem algo concreto,
algumas medidas que eles colocaram de pé, como o Auxílio Brasil, saque do FGTS, antecipação
do 13º dos aposentados. Então, tem uma série de ações do governo que são feitas mesmo
em último ano de mandato, foi feito agora com o Bolsonaro, a Dilma também teve uma
recuperação no final, no último ano também ela cresce no início. Isso é comum, é meio
que esperado que ele fosse crescer mesmo agora no início com esse, digamos assim, como o
pessoal fala, “pacote de bondades” que acaba acontecendo no último ano.” A consultoria Eurasia Group também atribui
a melhora na avaliação de Bolsonaro ao que chamou de “modesta recuperação do poder
de renda” da população mais pobre. Olha o que diz o relatório da consultoria: “No segundo semestre de 2021, a renda real
no Brasil caiu 11%, impulsionada por um aumento inflacionário maior do que o previsto, que
atingiu duramente as famílias de baixa renda. Mas no início de 2022 essas famílias recuperaram
parcialmente a renda perdida com o reajuste anual de 10% do salário mínimo nacional,
13º salário para aposentados e algumas medidas tomadas pelo governo – como o perdão da dívida
estudantil e liberação de saques do FGTS. Apesar dessa leve recuperação, a situação
econômica do país continua difícil, com alta nos preços dos alimentos e combustíveis. Em março, o IPCA, índice considerado a inflação
oficial do país, alcançou a maior taxa em 28 anos. No acumulado de 12 meses, a inflação já
chegou a 11,30%. Segundo a Eurasia, a principal preocupação
do eleitor nessas eleições vai ser “renda e emprego”, e Bolsonaro precisaria de avanços
mais substanciais nos indicadores econômicos para continuar crescendo nas pesquisas. A consultoria internacional diz o seguinte:
“Para Bolsonaro continuar a se recuperar, a economia terá que superar as expectativas
do mercado para esse ano”. O terceiro e último fator é a atual fase
da pandemia O Brasil é o segundo país com mais mortes
pela covid, atrás dos Estados Unidos – foram mais de 662 mil óbitos. No pico da doença, o número de mortos num
único dia chegou perto 4 mil. Com o avanço da vacinação, esse número
hoje está abaixo de cem. Apesar da gestão fortemente criticada de
Bolsonaro na pandemia, as taxas mais baixas de infecção e mortes geram uma sensação
de otimismo, que pode afetar positivamente a popularidade dele. Essa é a avaliação da cientista política
Carolina de Paula. Mas ela destaca que as pessoas “não esqueceram” o sofrimento e o
elevado número de mortes por covid. “Eu acredito que, assim, não tem um esquecimento,
acho que isso por exemplo durante uma campanha, a gente ainda, claro, a gente não tá em
campanha, os candidatos estão na rua, o Lula está discursando para cima e para baixo,
então a gente não está em campanha efetiva, então acho que isso volta em um momento de
campanha também, essa memória ativada. Então acho que as pessoas não esqueceram,
mas é assim, o otimismo dá uma superada nesse momento tão trágico. As pessoas estavam
esperando que alvo positivo fosse acontecer.” É isso, por hoje. A gente
vai continuar acompanhando de perto a movimentação dos candidatos até a eleição. Para ficar sabendo sempre que tiver vídeo
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